CS 229 - Aprendizado de máquina

Dicas de aprendizado supervisionado
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Conteúdo original por Afshine Amidi e Shervine Amidi
Traduzido por Leticia Portella. Revisado por Gabriel Fonseca e Flavio Clesio.

Introdução ao Aprendizado Supervisionado

Dado um conjunto de dados $\{x^{(1)}, ..., x^{(m)}\}$ associados a um conjunto de resultados $\{y^{(1)}, ..., y^{(m)}\}$, nós queremos construir um classificador que aprende como predizer $y$ baseado em $x$.

Tipos de predição Os diferentes tipos de modelo de predição estão resumidos na tabela abaixo:

Regressão Classificador
Resultado Contínuo Classe
Exemplos Regressão linear Regressão logística, SVM, Naive Bayes

Tipos de modelo Os diferentes modelos estão resumidos na tabela abaixo:

Modelo discriminativo Modelo generativo
Objetivo Estimar diretamente $P(y|x)$ Estimar $P(x|y)$ para daí deduzir $P(y|x)$
O que é aprendido Fronteira de decisão Probabilidade da distribuição dos dados
Ilustração Discriminative model Generative model
Exemplos Regressões, SVMs GDA, Naive Bayes

Notações e conceitos gerais

Hipótese A hipótese é denominada$h_\theta$ e é o modelo que escolhemos. Para um determinado dado de entrada $x^{(i)}$ o resultado do modelo de predição é $h_\theta(x^{(i)})$.


Função de perda A função de perda é definida como $L:(z,y)\in\mathbb{R}\times Y\longmapsto L(z,y)\in\mathbb{R}$ que recebe como entradas o valor z previsto correspondente ao valor real $y$ e retorna o quão diferente eles são.

Erro quadrático mínimo Perda logística Perda de Hinge Entropia cruzada
$\displaystyle\frac{1}{2}(y-z)^2$ $\displaystyle\log(1+\exp(-yz))$ $\displaystyle\max(0,1-yz)$
$\displaystyle-\Big[y\log(z)+(1-y)\log(1-z)\Big]$
Least squared error Logistic loss Hinge loss Cross entropy
Regressão linear Regressão logística SVM Rede neural

Função de custo A função de custo (cost function) $J$ é normalmente usada para avaliar a performance de um modelo e é definida usando a função de perda $L$ como:

\[\boxed{J(\theta)=\sum_{i=1}^mL(h_\theta(x^{(i)}), y^{(i)})}\]

Gradiente descendente Definindo $\alpha\in\mathbb{R}$ como a taxa de aprendizado, a regra de atualização para o gradiente descendente (gradient descent) é expressa usando a taxa de aprendizado e a função de custo $J$ como:

\[\boxed{\theta\longleftarrow\theta-\alpha\nabla J(\theta)}\]

Gradient descent

Observação: O gradiente descendente estocástico (GDE) atualiza o parâmetro baseado em cada exemplo de treinamento e o gradiente descendente em lote em um conjunto de exemplos de treinamento.


Probabilidade A probabilidade de um modelo $L(\theta)$ dado os parâmetros $\theta$ é usada para encontrar os parâmetros ótimos $\theta$ pela maximização da probabilidade. Na prática, é usado o logaritimo da probabilidade (log-likelihood) $\ell(\theta)=\log(L(\theta))$ que é mais simples para se otimizar. Tem-se:

\[\boxed{\theta^{\textrm{opt}}=\underset{\theta}{\textrm{arg max }}L(\theta)}\]

Algoritimo de Newton O algoritmo de Newton é um método numérico que encontra $\theta$ tal que $\ell'(\theta)=0$. Sua regra de atualização é:

\[\boxed{\theta\leftarrow\theta-\frac{\ell'(\theta)}{\ell''(\theta)}}\]

Observação: a generalização multidimensional, também conhecida como o método de Newton-Raphson, tem a seguinte regra de atualização:

\[\theta\leftarrow\theta-\left(\nabla_\theta^2\ell(\theta)\right)^{-1}\nabla_\theta\ell(\theta)\]

Modelos lineares

Regressão linear

Assume-se que $y|x;\theta\sim\mathcal{N}(\mu,\sigma^2)$

Equações normais Definindo $X$ como o desenho da matriz, o valor $\theta$ que minimiza a função de custo em uma solução de forma fechada é dado por:

\[\boxed{\theta=(X^TX)^{-1}X^Ty}\]

Algoritimo MMQ Definindo $\alpha$ como a taxa de aprendizado, a regra de atualização do algoritmo de Média de Mínimos Quadrados (LMS - Least Mean Squares) para um conjunto de treinamento de $m$ pontos, também conhecida como a regra de atualização de Widrow-Hoff, é dada por:

\[\boxed{\forall j,\quad \theta_j \leftarrow \theta_j+\alpha\sum_{i=1}^m\left[y^{(i)}-h_\theta(x^{(i)})\right]x_j^{(i)}}\]

Observação: a regra de atualização é um caso particular do gradiente ascendente.


LWR Regressão Ponderada Localmente (LWR - Locally Weighted Regression), também conhecida como LWR, é uma variação da regressão linear que sempre pondera cada exemplo de treinamento em sua função de custo por $w^{(i)}(x)$, que é definida com o parâmetro $\tau\in\mathbb{R}$ como:

\[\boxed{w^{(i)}(x)=\exp\left(-\frac{(x^{(i)}-x)^2}{2\tau^2}\right)}\]

Classificação e regressão logística

Função sigmoide A função sigmoide $g$, também conhecida como função logística, é definida como:

\[\forall z\in\mathbb{R},\quad\boxed{g(z)=\frac{1}{1+e^{-z}}\in]0,1[}\]

Regressão logística Se assume que $y|x;\theta\sim\textrm{Bernoulli}(\phi)$. Tem-se a seguinte fórmula:

\[\boxed{\phi=p(y=1|x;\theta)=\frac{1}{1+\exp(-\theta^Tx)}=g(\theta^Tx)}\]

Observação: não existe uma fórmula de solução fechada para o caso de regressão logística.


Regressão softmax A regressão softmax, também chamada de regressão logística multiclasse, é usada para generalizar a regressão logística quando existem mais de 2 classes. Por convenção, definimos $\theta_K=0$, que faz com que o parâmetro de Bernoulli $\phi_i$ de cada classe $i$ seja igual a:

\[\boxed{\displaystyle\phi_i=\frac{\exp(\theta_i^Tx)}{\displaystyle\sum_{j=1}^K\exp(\theta_j^Tx)}}\]

Modelos Lineares Generalizados

Família exponencial Uma classe de distribuições é chamada de família exponencial se ela puder ser escrita em termos de um parâmetro natural, também chamado de parâmetro canônico ou função de link $\eta$, uma estatítica suficiente $T(y)$ e de uma função de partição de log $a(\eta)$ e é dada por:

\[\boxed{p(y;\eta)=b(y)\exp(\eta T(y)-a(\eta))}\]

Observação: em geral tem-se $T(y)=y$. Também, $\exp(-a(\eta))$ pode ser definido como o parâmetro de normalização que garantirá que as probabilidades somem um.

Na tabela a seguir estão resumidas as distribuições exponenciais mais comuns:

Distribuição $\eta$ $T(y)$ $a(\eta)$ $b(y)$
Bernoulli $\log\left(\frac{\phi}{1-\phi}\right)$ $y$ $\log(1+\exp(\eta))$ $1$
Gaussiana $\mu$ $y$ $\frac{\eta^2}{2}$ $\frac{1}{\sqrt{2\pi}}\exp\left(-\frac{y^2}{2}\right)$
Poisson $\log(\lambda)$ $y$ $e^{\eta}$ $\displaystyle\frac{1}{y!}$
Geométrica $\log(1-\phi)$ $y$ $\log\left(\frac{e^\eta}{1-e^\eta}\right)$ $1$

Suposições de GLMs Modelos Lineares Generalizados (GLM - Generalized Linear Models) visa predizer uma variável aleatória $y$ através da função $x\in\mathbb{R}^{n+1}$ e conta com as 3 seguintes premissas:

$(1)\quad\boxed{y|x;\theta\sim\textrm{ExpFamily}(\eta)}$
$(2)\quad\boxed{h_\theta(x)=E[y|x;\theta]}$
$(3)\quad\boxed{\eta=\theta^Tx}$

Observação: mínimos quadrados ordinários e regressão logística são casos especiais de modelos lineares generalizados.


Máquinas de Vetores de Suporte

O objetivo das máquinas de vetores de suporte (SVM - Support Vector Machines) é encontrar a linha que maximiza a distância mínima até a linha.

Classificador de margem ideal O classificador de margem ideal $h$ é definido por:

\[\boxed{h(x)=\textrm{sign}(w^Tx-b)}\]

onde $(w, b)\in\mathbb{R}^n\times\mathbb{R}$ é a solução para o seguinte problema de otimização:

\[\boxed{\min\frac{1}{2}||w||^2}\quad\quad\textrm{tal como }\quad \boxed{y^{(i)}(w^Tx^{(i)}-b)\geqslant1}\]
SVM

Observação: a linha é definida como $\boxed{w^Tx-b=0}$.


Perda de Hinge A perda de articulação é usada na configuração das máquinas de vetores de suporte (SVMs) e é definida como:

\[\boxed{L(z,y)=[1-yz]_+=\max(0,1-yz)}\]

Kernel Dado um mapeamento de parâmetro $\phi$, o kernel $K$ é definido como:

\[\boxed{K(x,z)=\phi(x)^T\phi(z)}\]

Na prática, o kernel $K$ definido por $K(x,z)=\exp\left(-\frac{||x-z||^2}{2\sigma^2}\right)$ é chamado de kernel Gaussiano e é comumente usado.

SVM kernel

Observação: é dito que é usado o "truque de kernel" (kernel trick) para calcular a função de custo usando o kernel porque na verdade não precisamos saber o mapeamento explítico de $\phi$, que é muito complicado. Ao invés, apenas os valores $K(x,z)$ são necessários.


Lagrangiano O Lagrangiano $\mathcal{L}(w,b)$ é definido por:

\[\boxed{\mathcal{L}(w,b)=f(w)+\sum_{i=1}^l\beta_ih_i(w)}\]

Observação: os coeficientes $\beta_i$ são chamados de multiplicadores Lagrangeanos.


Aprendizado Generativo

Um modelo generativo primeiro tenta aprender como o dado é gerado estimando $P(x|y)$, o que pode ser usado para estimar $P(y|x)$ usando a regra de Bayes.

Análise Discriminante Gaussiana

Configuração A Análise Discriminante Gaussiana assume que $y$ e $x|y=0$ e $x|y=1$ são tais que:

$(1)\quad\boxed{y\sim\textrm{Bernoulli}(\phi)}$
$(2)\quad\boxed{x|y=0\sim\mathcal{N}(\mu_0,\Sigma)}$
$(3)\quad\boxed{x|y=1\sim\mathcal{N}(\mu_1,\Sigma)}$

Estimativa A tabela a seguir resume as estimativas que encontramos ao maximizar a probabilidade:

$\widehat{\phi}$ $\widehat{\mu_j}\quad{\small(j=0,1)}$ $\widehat{\Sigma}$
$\displaystyle\frac{1}{m}\sum_{i=1}^m1_{\{y^{(i)}=1\}}$ $\displaystyle\frac{\sum_{i=1}^m1_{\{y^{(i)}=j\}}x^{(i)}}{\sum_{i=1}^m1_{\{y^{(i)}=j\}}}$ $\displaystyle\frac{1}{m}\sum_{i=1}^m(x^{(i)}-\mu_{y^{(i)}})(x^{(i)}-\mu_{y^{(i)}})^T$

Naive Bayes

Premissas O modelo de Naive Bayes assume que os parâmetros (features) de cada dado do conjunto são independentes:

\[\boxed{P(x|y)=P(x_1,x_2,...|y)=P(x_1|y)P(x_2|y)...=\prod_{i=1}^nP(x_i|y)}\]

Soluções Maximizar o logaritimo da probabilidade nos dá as seguintes soluções, com $k\in\{0,1\},l\in[\![1,L]\!]$

\[\boxed{P(y=k)=\frac{1}{m}\times\#\{j|y^{(j)}=k\}}\quad\textrm{ et }\quad\boxed{P(x_i=l|y=k)=\frac{\#\{j|y^{(j)}=k\textrm{ et }x_i^{(j)}=l\}}{\#\{j|y^{(j)}=k\}}}\]

Observação: Naive Bayes é amplamente utilizado para classificação de texto e detecção de spam.


Métodos em conjunto e baseados em árvore

Esses métodos podem ser usados tanto para problemas de regressão quanto de classificação.

CART Árvores de Classificação e Regressão (Classification and Regression Trees), normalmente conhecida como árvores de decisão (decision trees), podem ser representadas como árvores binárias. Elas tem a vantagem de serem facilmente interpretadas.


Floresta aleatória É uma técnica (Random Forest) baseada em árvore que usa um grande número de árvores de decisão construídas a partir de um conjunto aleatórios de parâmetros. Ao contrário de uma simples árvore de decisão, esta técnica é de difícil interpretação mas geralmente alcança uma boa performance, sendo um algorítimo popular.

Observação: florestas aleatórias são um tipo de métodos de conjunto.


Boosting A ideia dos métodos de boosting é combinar vários tipo de aprendizes fracos (weak learners) para formar um mais forte. Os principais tipos estão resumidos na tabela abaixo:

Boosting adaptativo Gradiente de boosting
• Pesos altos são adicionados aos erros para melhorar o próximo passo de boosting. • Aprendizes fracos treinados nos erros remanescentes

Outras abordagens não paramétricas

$k$-vizinhos próximos O algortimo de $k$-vizinhos próximos, normalmente conhecido como $k$-NN, é uma abordagem não paramétrica onde a resposta do dado é determinada pela natureza dos seus $k$ vizinhos no conjunto de treinamento. Ele pode ser usado tanto em configurações de classificação como regressão.

Observação: Quanto maior o parâmetro $k$, maior o viés, e quanto menor o parâmetro $k$, maior a variância.

k nearest neighbors

Teoria de Aprendizagem

Limite de união Dado que $A_1, ..., A_k$ são $k$ eventos. Temos que:

\[\boxed{P(A_1\cup ...\cup A_k)\leqslant P(A_1)+...+P(A_k)}\]
Union bound

Desigualdade de Hoeffding Dado que $Z_1, .., Z_m$ são $m$ iid variáveis extraídas de uma distribuição de Bernoulli do parâmetro $\phi$. Seja $\widehat{\phi}$ a média amostral deles e fixado $\gamma>0$. Temos que:

\[\boxed{P(|\phi-\widehat{\phi}|>\gamma)\leqslant2\exp(-2\gamma^2m)}\]

Observação: essa desigualdade também é chamada de fronteira Chernoff.


Erro de treinamento Para um dado classificador $h$, é definido o erro de treinamento $\widehat{\epsilon}(h)$, também conhecido como o risco ou o erro empírico, como:

\[\boxed{\widehat{\epsilon}(h)=\frac{1}{m}\sum_{i=1}^m1_{\{h(x^{(i)})\neq y^{(i)}\}}}\]

Provavelmente Aproximadamente Correto (PAC) PAC é uma estrutura (framework) em que numerosos resultados da teoria de aprendizagem foram provados, e tem o seguinte conjunto de premissas:
- o conjunto de treino e teste seguem a mesma distribuição
- os exemplos de treinamento foram extraídos de forma independente


Shattering Dado um conjunto $S=\{x^{(1)},...,x^{(d)}\}$, e um conjunto de classificadores $\mathcal{H}$, diz-se que $\mathcal{H}$ destrói (shatters) S se para qualquer conjunto de rótulos $\{y^{(1)}, ..., y^{(d)}\}$, temos:

\[\boxed{\exists h\in\mathcal{H}, \quad \forall i\in[\![1,d]\!],\quad h(x^{(i)})=y^{(i)}}\]

Teorema da fronteira superior Seja $\mathcal{H}$ uma class de hipótese finita tal que $|\mathcal{H}|=k$ e seja $\delta$ e o tamanho da amostra $m$ fixado. Então, com a probabilidade de ao menos $1-\delta$, temos:

\[\boxed{\epsilon(\widehat{h})\leqslant\left(\min_{h\in\mathcal{H}}\epsilon(h)\right)+2\sqrt{\frac{1}{2m}\log\left(\frac{2k}{\delta}\right)}}\]

Dimensão VC A dimensão Vapnik-Chervonenkis (VC) de uma classe de hipótese infinita $\mathcal{H}$, denominada $\textrm{VC}(\mathcal{H})$ é o tamanho do maior conjunto que é destruído (shattered) por $\mathcal{H}$.

Observação: a dimensão VC de ${\small\mathcal{H}=\{\textrm{set of linear classifiers in 2 dimensions}\}}$ é 3.

VC dimension

Teorema (Vapnik) Dado $\mathcal{H}$ , com $\textrm{VC}(\mathcal{H})=d$ e $m$ o número de exemplos de treinamento. Com a probabilidade de ao menos $1-\delta$, temos que:

\[\boxed{\epsilon(\widehat{h})\leqslant \left(\min_{h\in\mathcal{H}}\epsilon(h)\right) + O\left(\sqrt{\frac{d}{m}\log\left(\frac{m}{d}\right)+\frac{1}{m}\log\left(\frac{1}{\delta}\right)}\right)}\]